Você já deve ter visto cafés com selos como “83 pontos SCA” ou “87 pontos” e se perguntado:

“Quem dá esses pontos? E o que isso realmente quer dizer?”

No mundo dos cafés especiais, esses números são mais do que marketing. Eles são uma linguagem internacional de qualidade, criada para avaliar cafés de forma padronizada, independente de marca ou país.

Mas entender o que essa pontuação significa — e o que ela não significa — é essencial pra fazer boas escolhas (e evitar pagar caro só por um número).

De onde veio a pontuação dos cafés

A escala surgiu com a SCA (Specialty Coffee Association), uma entidade global que define padrões de qualidade e treinamento na cadeia do café.

Antes dela, cada país usava sistemas diferentes — o que tornava impossível comparar um café colombiano com um brasileiro, por exemplo.

A SCA criou então um protocolo sensorial padronizado, usado até hoje por provadores certificados (os famosos Q-Graders).

Esses profissionais seguem uma ficha técnica e uma metodologia de prova chamada cupping — uma degustação às cegas, feita com rigor científico.

Como é feita a pontuação

Durante o cupping, cada café é avaliado em 10 atributos sensoriais, que juntos somam 100 pontos.

Cada atributo vale até 10 pontos e é pontuado de acordo com a intensidade, equilíbrio e qualidade percebida.

Depois de pontuar, os Q-Graders somam os valores (descontando defeitos, se houver) e obtêm o score final.

A escala SCA — o que significam os números

Resumo Cafello:

Um café de 84 pontos já é especial — acima disso, você entra em território dos cafés finos, de origem rastreável e complexidade sensorial real.

O que influencia a nota

A pontuação não depende só do sabor:

• Origem e altitude: influenciam o terroir e a complexidade.
• Variedade genética: define o potencial sensorial do grão.
• Processo pós-colheita: controla doçura, acidez e textura.
• Torra: pode revelar ou esconder as qualidades do café.
• Armazenamento e frescor: alteram o aroma e o equilíbrio.

Um café incrível pode perder pontos se for torrado demais ou mal armazenado — e um café comum pode parecer melhor se for avaliado logo após a torra.

E o que não significa a pontuação

Aqui está o ponto que muita gente erra:

A pontuação não é um selo de gosto pessoal.

Um café de 88 pontos pode ter acidez intensa e notas florais — e você pode preferir um 83 pontos mais doce e achocolatado.

E tudo bem.

💬 Resumo Cafello:

A nota SCA mede qualidade sensorial objetiva, não “gosto”.

Ela mostra potencial e complexidade, mas o que é “melhor” depende do seu paladar.

Como interpretar o score na prática

• 80–84 pts: ótimo ponto de partida. Cafés doces, equilibrados e fáceis de gostar.
• 85–87 pts: mais brilho, definição de notas e experiência sensorial mais rica.
• 88+ pts: cafés para explorar, degustar com calma e comparar com outros.

Dica Cafello:

Se você ainda está começando, procure cafés entre 83 e 86 pontos — esse é o “doce spot” entre qualidade e acessibilidade.

Atualizações e novas abordagens

Nos últimos anos, a própria SCA vem revisando o protocolo de pontuação, reconhecendo que o sistema antigo (criado em 2004) precisa evoluir.

O novo SCA Cupping Protocol 2.0, lançado em 2023, traz:

• Maior foco em doçura, clareza e balanceamento sensorial;
• Novos parâmetros para café fermentado e experimental;
• Redução da subjetividade entre avaliadores;
• Inclusão de descritores positivos que antes não se encaixavam no padrão tradicional.

Resumo Cafello:

A SCA está tentando se adaptar à nova realidade do café: mais diversidade de processos, estilos e perfis que fogem do “padrão limpo e doce” dos anos 2000.

Conclusão

A pontuação é uma bússola — não um destino.

Ela serve pra entender o nível de qualidade e o tipo de experiência que você vai ter, mas não substitui seu próprio gosto.

Café é linguagem, cultura e química — e quanto mais você prova, mais aprende a traduzir os números em sensações.