Essa técnica pode arruinar (ou salvar) seus coados: blooming
Seu guia rápido para cada método de preparo de café.
Essa técnica pode arruinar (ou salvar) seus coados: blooming
Se o café filtrado é uma arte, a pré-infusão (blooming) é a primeira pincelada no quadro.
É aquele momento logo no início do preparo, quando a água quente toca o pó de café e ele “incha” liberando gases — uma pequena efervescência que, visualmente, parece mágica, mas que na prática é pura ciência da extração.
Feito do jeito certo, a pré-infusão realça doçura, clareza e equilíbrio.
Feito errado, pode arruinar completamente sua xícara — mesmo que todo o resto do preparo esteja perfeito.

O que é o blooming (pré-infusão)?
Quando o café é torrado, parte do gás carbônico (CO₂) produzido durante a torra fica preso dentro do grão.
Ao moer o café e despejar água quente, esse CO₂ é liberado rapidamente — o que cria bolhas e levanta o leito do café.
Se você pular essa etapa ou fizer mal feita, a água não penetra de forma uniforme na cama de café.
O resultado? Partes do café extraem demais (amargor) e outras de menos (acidez agressiva).
Em resumo: o blooming serve para “despertar” o café — liberar os gases e preparar o terreno para uma extração estável e homogênea.
A ciência por trás
Durante o blooming, a liberação de CO₂ é crucial porque:
- O gás impede a entrada de água — então, enquanto há bolhas, há menos extração.
- Umedecer bem o café permite que o restante do fluxo entre de forma uniforme e previsível.
Em cafés recém-torrados (menos de 10 dias), o blooming precisa ser mais longo e ativo, já que há mais CO₂ retido.
Em cafés mais velhos, pode ser mais curto, pois há menos gás para sair.
Dica Cafello: se o café “incha” demais, espere mais; se mal reage à água, reduza o tempo. O grão te conta o ponto.
Como fazer blooming corretamente
A regra geral:
- Use de 2,5 a 3 vezes o peso de café em água, e espere entre 30 e 45 segundos antes de continuar o despejo principal.
Mas dentro desse intervalo, existem diferentes técnicas — cada uma com sutis efeitos sobre a xícara final.

1 - Balançar o porta-filtro
Como fazer:
Despeje a água do blooming no centro (cerca de 3x o peso do café) e, logo em seguida, segure o porta-filtro e faça um movimento suave de balanço circular.
O que acontece:
O movimento ajuda a distribuir a água e o pó de maneira uniforme, sem precisar mexer com utensílios.
É especialmente eficiente para torras claras, pois realça o aroma e ajuda a umedecer por igual mesmo cafés densos e menos porosos.
Cuidados:
- Se a moagem for muito grossa, o balanço não espalha a água o suficiente.
- Se balançar forte demais, você pode mover a cama de café e criar canais de extração desigual.
Resumo Cafello: blooming limpo, aroma destacado, xícara equilibrada — mas requer mão leve.
2 - Misturar com colher
Como fazer:
Após despejar a água do blooming (3x o peso do café), misture delicadamente com uma colher.
O objetivo é dissolver o pó seco e garantir que toda a cama esteja molhada.
O que acontece:
A agitação melhora a homogeneidade e reduz o risco de channeling (quando a água “fura” caminhos preferenciais).
O resultado é um café com mais corpo e extração mais completa.
Cuidados:
Mexer com força demais pode perturbar o leito, levantando partículas finas e gerando uma xícara turva, com perda de clareza.
Resumo Cafello: xícara encorpada, extração uniforme, mas fácil de exagerar — equilíbrio é tudo.
3 - Kubomi (ou “coning”)
Como fazer:
Antes de despejar a água, use uma haste para fazer uma pequena cratera no centro da cama de café — um “cone” que direciona o fluxo de água.
Despeje a água do blooming dentro dessa cavidade, de maneira controlada.
O que acontece:
A água penetra mais rapidamente no centro, empurrando o ar pra fora e umedecendo as bordas de forma gradual.
Isso favorece uma extração estável e previsível, especialmente em moagens médias e torras claras.
Cuidados:
Uma indentação muito funda pode causar concentração excessiva no centro, deixando as bordas subextraídas.
Resumo Cafello: método equilibrado, ótimo para quem busca consistência e aroma limpo.
Outros métodos de pré-infusão que valem conhecer
Spoon swirl (redemoinho com colher)
Em vez de mexer o café, você faz um leve giro da colher, criando um redemoinho na água do blooming.
Isso ajuda a eliminar bolhas de CO₂ rapidamente, sem perturbar a cama.
→ Ideal pra quem quer uma xícara clara, limpa e consistente.
WDT Bloom
Técnica inspirada no espresso: usar um palito fino ou WDT tool pra “picar” levemente o café durante o blooming, quebrando grumos secos.
→ Melhora a uniformidade em moagens médias-finas, mas requer cuidado extremo pra não afundar o leito.

Comparativo rápido dos métodos
| Método | Complexidade | Resultado típico | Melhor para |
|---|---|---|---|
| Balançar o porta-filtro | Fácil | Aroma forte, equilíbrio | Torras claras |
| Misturar com colher | Média | Corpo intenso, extração homogênea | Torras médias |
| Kubomi (coning) | Média | Clareza e estabilidade | Filtrados delicados |
| Spoon swirl | Fácil | Limpeza e brilho | Cafés florais |
| WDT Bloom | Avançado | Uniformidade máxima | Moagens finas / espresso pour-over |
Conclusão Cafello
O blooming é o prelúdio da extração — e dominar essa etapa é entender como o café respira antes de entregar sabor.
Não existe um método “correto” — existe o que melhor conversa com o seu café.
Em torras claras, agitação leve e blooming longo fazem maravilhas.
Em torras médias, um pouco mais de movimento traz corpo e equilíbrio.
O segredo é observar: o café fala, borbulha, muda de cor — ele te mostra quando está pronto.

